A banda paulistana oitentista Golpe de Estado foi simplesmente a melhor experiência de hard rock cantado em português já vista. Muitas outras bandas já haviam tentado, algumas ainda tentam, mas nada se compara com o que Catalau (voz), Hélcio Aguirra (guitarra), Nelson Brito (baixo) e Paulo Zinner (bateria) fizeram principalmente entre 1985 e 1996.
O grande feito da banda foi não soar como uma tradução do que vinha sendo produzido nos países de língua inglesa – dificuldade também enfrentada pelos primórdios do rock nacional várias décadas atrás. A temática das letras varia, e muito: mulheres, drogas, vida, amor, nonsense e até crítica social – tão comum entre as bandas contemporâneas ao Golpe de Estado, mas que não acontece nas músicas de bandas de hard rock gringas.
Quem escuta o Golpe de Estado tem a impressão que há dois lados diferentes dentro da banda, mas que se completam. De um lado, está um instrumental extremamente virtuoso, com guitarrista, baixista e baterista em condições de brigar de igual para igual com os músicos de Iron Maiden, Whitesnake, Megadeth, etc. Do outro lado, um vocalista se esforçando para, sem perder de vista o metal, trazer a banda para perto das massas, para popularizar o estilo.
Apesar de a banda, mesmo em seu auge, não ter tido a atenção merecida, houve sim um certo destaque na mídia para a banda, que foi a programas de televisão, festivais e aniversários de rádio. Entre as melhores músicas, estão “Noite de balada”, “Faço o que posso”, “Real valor”, “Caso sério”, “Forçando a barra” e “Sem elas”. Valem a pena ser escutadas. E muito.
A banda ainda existe, mas só com Hélcio Aguirra e Nelson Brito da formação clássica. Catalau deixou o Golpe de Estado no fim da década de 1990 e hoje é pastor da igreja evangélica Bola de Neve, assim como Rodolfo, ex-vocalista dos Raimundos. (A adesão de ex-roqueiros à “missão” de evangelização de outros que também não “seguiam a Palavra” rende uma resenha à parte, que será publicada neste blog em breve).
Ao todo, foram setes discos, lançados entre 1986 e 2004 – “Golpe de Estado” (1986), “Forçando a Barra” (1988), “Nem Polícia Nem Bandido” (1989), “Quarto Golpe” (1991), “Zumbi” (1994), “Dez Anos Ao Vivo” (1996) e “Pra Poder” (2004). Os cinco primeiros com Catalau nos vocais, e maioria difícil de encontrar para comprar. Vale a pena procurar na internet e baixar, principalmente o “Forçando a Barra” e “Quarto Golpe”, os melhores.
* foto divulgada no site do fã clube do Golpe de Estado (www.golpedeestado.com.br), extraída de reportagem publicada na revista Bizz, em abril de 1990